quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Conheça o FEI X3, o protótipo brasileiro "primo distante" do DeLorean


FEI X3: Um protótipo brasileiro de carro esporte com motor Dodge V8 e muita semelhança com o DeLorean DMC-12!


Nós já postamos no Facebook sobre isso, mas agora aqui você descobrirá a história completa por trás da lenda, do mito. Entenda como tudo aconteceu neste artigo especial abaixo.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o padre jesuíta e visionário Sr. Roberto Sabóia de Medeiros percebeu que o Brasil poderia não ser apenas um país de agricultura. Em 1945, ele criou a Fundação de Ciências Aplicadas (FCA) para auxiliar na industrialização do Brasil. Após dois anos, a Fundação criou a Faculdade de Engenharia Industrial, hoje chamada de Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana "Padre Sabóia de Medeiros", popularmente conhecida pela sigla FEI, em São Paulo, Brasil.

Dez anos depois, estimulado pelo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, a revolução industrial do Brasil ganhou velocidade, especialmente em São Paulo, com investimentos da International Harvester, da Simca, da Willys Overland e da General Motors (GM). A FEI abriu um campus em São Bernardo do Campo, graças a uma doação de terras feita pela Sra. Lavinia Gomes, esposa do prefeito Lauro Gomes.


Em 1963, um dos principais professores era o Sr. Rigoberto Soler Gisbert, ex-funcionário da ENASA (Empresa Nacional de Autocamiones S.A) e um espanhol radicado no Brasil, fabricava caminhões nos anos 50 e ingressou no ramo automobilístico na Vemag, fabricante da linha DKW, onde chegou a projetar uma perua utilitária que ficou na fase de protótipo. Mais tarde esteve na Willys-Overland, envolvido no desenvolvimento de um carro-esporte maior que o Interlagos (este seria uma versão brasileira do Renault Alpine A108, de linhas semelhantes ao A110 e o nome é mesmo uma homenagem ao famoso nome do Autódromo de Interlagos).

Este protótipo teria mecânica de seis cilindros e 2,6 litros do Aero-Willys. Ficou conhecido como "Capeta", este carro chegou a ser apresentado no IV Salão do Automóvel, em 1964, mas nunca entrou em produção. Depois disso ele se envolveu na produção do carro esportivo Pegaso Z-102 (só para constar: pégaso é o nome do lendário e mítico cavalo alado, da mitologia grega), que foi liderado pelo ex-diretor técnico da Ferrari, Wilfredo Ricart.

Depois da Willys, Soler trabalhou na Brasinca S.A. - Ferramentas, Carrocerias e Veículos, empresa fundada em 1949 que fabricava carrocerias e estampas para caminhões e ônibus em São Caetano do Sul, SP. Da empresa Brasinca havia saído a cabine do primeiro caminhão brasileiro, o FNM ("Fenemê"), e também produzia para GM, Mercedes-Bens e Ford (Budd nos EUA). Soler projetou o Brasinca 4200 GT, um carro esportivo com um motor Chevrolet de seis cilindros. Dentro da FEI, o professor e engenheiro Soler liderou o Departamento de Estudos e Veículos de Pesquisa. Seu primeiro carro foi o FEI X1, que foi baseado nas mecânicas do Renault Gordini. Foi exibido pela primeira vez em 1968 no IX Salão do Automóvel.


Em 1972, Soler instruiu seus alunos a trabalhar em um novo carro esportivo, batizado de X3 (também chamado de "Lavinia" em homenagem ao benfeitor da FEI), que seria uma evolução do Brasinca 4200 GT. Ele especificou o uso de uma estrutura de aço tubular e freio a ar, uma aba retangular embutida na traseira do veículo. Os alunos da MecAut foram divididos em dois grupos, um responsável pela fabricação do chassi e outro pela carroceria.


Para se ter uma ideia das dimensões do carro, um motor V8 de 292 polegadas cúbicas de um Ford foi usado, mas logo foi decidido que a maioria dos componentes seria do Dodge Dart. A suspensão dianteira era de um Dodge Torsion Aire Ride, com barras de torção; embora o eixo traseiro da Chrysler fosse suportado por molas helicoidais, mais adequado para um carro esportivo. Rodas de magnésio de 14 polegadas foram usadas; a caixa de direção Gemmer era a mesma que a do Dart, mas com sua taxa de redução de 24:1 alterada para 15:1 para ser mais sensíveis a manobras de alta velocidade.



O motor Série-A 318 V8 já era do novo tipo LA moldado no Brasil, o que também era usado nos Dart (198 cv), e mais tarde foi substituído por outro do Charger R/T (versão esportiva do brasileiro Dart) com maior taxa de compressão e duplo escape sistema para 215 cavalos de potência. A transmissão original da Dart, com apenas três marchas, também foi substituída pelas quatro marchas do brasileiro Charger R/T. A transmissão foi modificada devido à menor distância entre eixos, e uma nova relação diferencial foi usada, já que o FEI X3 seria mais leve e mais aerodinâmico do que o Dart. Os freios dianteiros do tambor também foram substituídos por discos.


A construção da carroceria foi feita usando uma forma de martelo, assim como fabricantes de automóveis italianos. O X3 foi completamente moldado à mão em alumínio, com uma gaiola resistente para proteger os ocupantes, portas de asa de gaivota (parecidas com as do famoso DeLorean DMC-12), frente de alumínio monolítica, dois tanques de gás traseiros (capacidade de 90 litros / 24 galões), escapamentos laterais e externo freios a ar. As luzes traseiras, como nos carros atuais, ficavam nas colunas do teto. O X3 tinha dois pneus sobressalentes e um bom espaço para bagagem no porta-malas. Curiosamente, o pára-brisa era de um Ford Galaxie.


Dentro do carro esportivo havia assentos reclináveis revestidos de couro, ar condicionado, painel de instrumentos no console central, volante de alumínio de três raios, porta-luvas e uma maleta 007. Os alunos também queriam montar uma câmera de oito milímetros no carro para filmar testes, treinos ou corridas.

O carro brasileiro FEI X3 tinha 4,3 metros de comprimento, 1,8 m de largura e 1,1 m de altura. Tinha uma altura ao solo de 18 cm e pesava 1.100 kg, com um coeficiente de arrasto incrivelmente baixo de apenas 0,32.


Este protótipo X3 foi originalmente pintado de amarelo. Foi construído pela equipe de Ricardo Okubo, Ademir Fornasaro, Carlos Augusto Scarpelli, Flávio Vicenzo, Gilberto Luz Pereira, A. Heymann, R. Leite, José Pompeo Giannocoro, Roberto Barretti, Roberto Julio Asam e Rudolph Herbert Meyer. Os membros da equipe realizaram turnos das 6h às 16h no dia seguinte, dormindo em seus carros e sacrificando suas férias e fins de semana para terminar o FEI X3 'Lavinia' a tempo para o XIII Salão do Automóvel de São Paulo do ano de 1972.


Mas o esforço não foi desperdiçado - o carro, agora pintado na cor verde e dourado metálico, se tornou uma das estrelas do evento, conquistando a admiração do então presidente do Brasil, general Emilio Medici Garrastazu. Graças ao protótipo, o governo federal começou a entender melhor a utilidade da FEI e apoiou financeiramente o desenvolvimento do Talav, um hovercraft de trens de alta velocidade.


Atualmente o carro FEI X3 'Lavinia', restaurado pela FEI, ainda faz parte da coleção da faculdade e é exibida em diversos eventos sobre a história dos automóveis brasileiros.


Abaixo você confere fotos da última vez que o carro foi visto no pátio da FEI. Observe que colocaram um banner informativo dizendo que "muitos acham ele uma cópia do DeLorean, carro utilizado no filme De Volta para o Futuro". Apesar de que o X3 sempre costuma reaparecer ao público anualmente no evento FEI Portas Abertas, que promove visitas guiadas para futuros alunos ingressantes.






Texto livremente adaptado e traduzido de Rogério Ferraresi.
Fonte: AllPar.com e BestCars UOL

Um comentário:

  1. Previsão era produzir em FIBRA de vidro. Oito foram encomendados. fonte: Revista Quatro Rodas jan/1971

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