segunda-feira, 16 de julho de 2018

O tempo e sua velocidade



Vamos falar sobre TEMPO. Mais uma vez. No final de abril foi publicado um excelente texto aqui no blog sobre o tema. Mas esse aqui vai abordar uma questão específica: por que temos a sensação que o tempo passa cada vez mais rápido?

Imagino que todos já passaram por situações, como, de achar que não está com tempo para nada, ou que o tempo está cada vez mais escasso. É claro que a percepção de tempo muda conforme a idade: para uma criança um Natal para o outro é uma eternidade, enquanto para um adulto, um Mundial de Futebol, por exemplo, é como um piscar de olhos - ou vai falar que o famoso 7x1 em 2014 não "aconteceu ontem"? Mas se pararmos para pensar, desde que o homem se conhece por homem e o tempo é medido da forma universal, o dia tem 24 horas, a hora tem 60 minutos, o minuto tem 60 segundos...ou seja, o tempo não está passando mais rápido com o passar dos anos.

Então a questão é, o porque da sensação? A explicação é simples, porém complexa, pois ela vem andando junto com a evolução humana. O ponto chave foi com a Revolução Industrial, quando máquinas começaram a fazer o trabalho mais rápido do que o homem conseguia. Ou seja, a tecnologia - mesmo sendo rudimentar - embutia velocidade ao dia a dia. Uma viagem de uma cidade a outra podia levar semanas mas com a inclusão dos trens como meio de transporte, os minutos acabaram sendo preciosos no processo.

Complicado? Vou dar um exemplo pessoal.

Meu saudoso pai era contabilista e trabalhava em uma estatuaria no Parque São Domingos, em São Paulo, capital. Nas minhas férias, la pelo fim da década de 80 e começo  da década de 90, eu passava alguns dias no escritório com ele e acompanhava o dia a dia do pessoal que ali trabalhavam. Uma pessoa do escritório era responsável por  enviar a relação das peças que estavam a venda para os clientes. Vamos então aqui imaginar o processo como um todo: na segunda as 9h essa pessoa começava a  datilografar essa relação, que continham número, nome, peso, tamanho e preço das peças. Mais ou menos duas folhas de sulfite. Por mais que ele datilografasse rápido, o fato de ter muitos dados fazia que ele demorasse um dia inteiro para concluir o processo - lembrem-se, não existia computadores, muito menos planilhas eletrônicas salvas, ou seja começava do 0, sempre. No dia seguinte ele conferia as folhas. Nesse exemplo vamos supor que não tinham erros. O próximo passo era se dirigir até uma máquina de xerox  que existia no escritório e tirar mais ou menos 100 cópias de cada ou 200 folhas ao todo. No período da manhã então ele xerocava tudo. Ao terminar esse processo ele sentava novamente na frente da máquina de escrever e começava a datilografar 100 envelopes, com o nome dos destinos que as cartas seriam enviadas. Datilografar 100 envelopes era - e  continua sendo - um processo demorado. Acabava que o restinho da manhã de terça e o restante da tarde fazendo o serviço. No dia seguinte grampeava as duas folhas, dobrava relação por relação, colocava dentro do envelope e fechava: 100 listas em 100 envelopes. No período da tarde ele saía para ir aos Correios postá-las, salientando que os destinos eram variados, desde ruas  próximas até em outros países. O processo todo para ser concluído - entenda-se o processo concluído como o último remetente recebendo a correspondência - demorava no mínimo 2 semanas.

Vamos imaginar esse mesmo escritório hoje?

O funcionário chega, senta na frente do computador, abre uma planilha, altera os dados, salva, anexa em um e- mail e dispara para o respectivos destinos. O processo que antes demorava até 14 dias para ser concluído hoje você concluí em menos de 1 hora.

Tá, mas e o que isso tem a ver?

O fato de você conseguir concluir uma tarefa de forma rápida faz consequentemente você pegar outra tarefa para fazer, e assim sucessivamente até o momento que o dia acabou e você vai ter aquela sensação que não conseguiu concluir o que estava fazendo. E a  sensação que o tempo passou rápido vai aflorar ainda mais. Há ainda pesquisas que englobam problemas de pressa e ansiedade, inclusive psiquiatras que estudam doenças relacionados com a pressa do mundo moderno. Para o jornalista escocês Carl Honoré, na cultura ocidental o tempo acaba sendo linear e sem volta, fazendo o homem a querer tirar proveito disso a qualquer custo, e o único jeito que nós encontramos é acelerando o tempo que temos.

A tendência é que a tecnologia vai ser cada vez mais rápida e essa falsa sensação que o tempo está passando mais rápido não vai diminuir - a não ser que o próprio homem coloque freios nessa aceleração demasiada. Antigamente era normal esperar que uma carta demorasse dias, semanas para ser entregue. Hoje é inadmissível que uma correspondência ou encomenda demore mais que dois, três dias ou até mesmo horas quando se contrata um serviço de motoboy ou entrega express.

Por um lado a vida fica mais ágil e dinâmica, pelo outro lado corremos o risco de ficar preso em um  mundo veloz, onde a pressa vence o respeito e o afeto. Corremos o risco de se fechar em um mundo virtual onde um encontro de amigos ou familiares se resume a hoje à um grupo de WhatsApp e quando alguém propõe um encontro real a primeira resposta que vai surgir é "não tenho tempo"!

Um filme interessante sobre o tema, isso bem antes das redes sociais, é "Denise está Chamando" (Denise Calls Up) de 1995, onde o personagem central é um telefone e toda trama se desenvolve através dele.

E você? Acha que o tempo está passando mais rápido do que o normal?

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