segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Brasil testa carros do futuro movido a estrume! Great Scott

Ônibus verde da Scania abastecido tanto com GNV quanto com biometano.

Gás extraído de dejetos, biometano é 100% renovável e tem custo 56% menor que o do diesel

Como todos sabemos, em "De Volta para o Futuro parte 2" (1989), Doutor Brown abastece o DeLorean usado para viajar no tempo com lixo doméstico (casca de banana, cerveja e a lata em si...), por meio de um dispositivo instalado no próprio veículo, chamado de "Mister Fusion". Na trama, o cientista havia trazido o equipamento do futuro 2015 (que no caso, já hoje é passado) para converter dejetos em combustível.

Pois a ficção esta virando realidade em 2017. Tudo bem ainda não dá para colocar uma casca de banana no tanque e sair rodando, mas já existe tecnologia no Brasil para gerar combustível automotivo de gases de esgoto, do lixo, de restos de alimentos, resíduos da agricultura e até de titica de galinha.

Trata-se do biometano, versão refinada do biogás, que é extraído de matéria orgânica em decomposição por meio de equipamentos chamados de biodigestores. O biometano pode abastecer qualquer veículo com kit de GNV, que você já conhece. Mas, diferentemente do gás natural veicular, que tem origem fóssil como a gasolina e o diesel, o biometano é 100% renovável!

De acordo com o CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis/Biogás), o biometano pode reduzir em até 90% as emissões de poluentes na comparação com a gasolina. Seu uso previne ainda o lançamento de metano na atmosfera, um dos vilões do aquecimento global (o outro é o CO2).

Biodigestores extraem gás de esgoto, lixo, restos de alimentos, resíduos da agricultura e até de titica de galinha

O abastecimento do biometano em automóveis já tem uma regulamentação geral elaborada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) desde fevereiro de 2015. Mesmo assim, ainda não é oferecido nos postos de combustível no país.

Por enquanto, apenas o biogás - utilizado para geração de energia térmica e elétrica - já é uma realidade, mas que também tem muito a crescer no Brasil.

Esse combustível sustentável já está em testes em indústrias e empresas e deve chegar ao mercado em breve. Enquanto isso, algumas empresas do Brasil já trabalham para produzir biometano e abastecer parte dos seus automóveis. Uma delas é a Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo), e outra, o complexo hidrelétrico Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR).

Em Franca (SP), Sabesp já tem 20 carros prontos para uso do biometano

A Sabesp será a primeira do país a produzir biometano exclusivamente a partir do lodo que resulta do tratamento de esgoto, na unidade de Franca, no interior paulista.

A produção começa em meados deste ano e conta com parceria do Instituto Fraunhofer, da Alemanha, que cedeu o equipamento necessário para converter o biogás resultante do esgoto em biometano. Essa tecnologia remove impurezas do biogás para aumentar a concentração do metano para acima de 96%, atendendo às especificações da ANP para uso veicular.

A estimativa é produzir todos os dias biometano suficiente para substituir 1,7 mil litros de gasolina e abastecer cerca de 50 automóveis adaptados com kits GNV - aproximadamente 20 desses veículos já estão prontos para receber o biometano.

Quando começar a ser produzido, o combustível sustentável passará por uma fase de testes com acompanhamento dos órgãos reguladores, como a ANP, para garantir o atendimento às especificações. A ANP informou que já "está trabalhando" na regulamentação especifica para biometano oriundo de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto.

"A utilização do gás gerado no tratamento de esgotos como combustível veicular resulta em ganhos econômicos e benefícios para a sociedade e o meio ambiente. Isso significa uma redução do consumo de combustíveis fósseis e da emissão de gases de efeito estufa", avalia Cristina Zuffo, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento da Sabesp.

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A Usina de Itaipu, por sua vez, já conta com uma frota de 59 veículos movidos a biometano, de um total de 249 unidades da empresa. Até o fim do semestre, serão mais 14 que serão abastecidos com o biocombustível, substituindo modelos convencionais. Também há 55 veículos elétricos.

O biometano utilizado em Itaipu provém, literalmente, de titica de galinha. Em parceria com o CIbiogás, instituição tecnológica e científica sem fins lucrativos, ele é gerado na granja Haacke, localizada no município de Santa Helena (PR), próximo a Itaipu. Desde de 2013, são processados na granja cerca de 100 m³ por dia de efluentes líquidos, provenientes do excremento das aves, produzindo diariamente 1.000 m³ de biogás. Esse biogás depois é refinado para se transformar em biometano, destinado para abastecer os automóveis e também para gerar energia elétrica, utilizada na própria granja.

Europa para o Futuro

Enquanto a cadeia de produção, distribuição e comércio de biometano ainda engatinha no Brasil, ela já está consolidada na Europa. Cerca de 40% dos ônibus que hoje rodam na Suécia (onde fica a matriz da marca) já são abastecidos com biometano.

Vendo potencial no mercado brasileiro, a Scania trouxe em 2014 um ônibus da marca abastecido tanto com GNV quanto com biometano. De acordo com a Scania, a média de consumo do biometano é ligeiramente inferior à do diesel (2,02 km/m³ contra 2,2 km/l), mas tem custo aproximadamente 30% menor. Em relação ao preço por quilometragem, o custo do biometano é menor em 56% ante um veículo similar a diesel. 

Além do ônibus da Scania, recentemente a New Holland apresentou, em Itaipu, um trator movido a biometano, que também passa por testes e avaliação de produtores agrícolas potencialmente interessados em gerar biometano nas fazendas e, com ele, abastecer seus tratores e outros veículos.

De acordo com números fornecidos pela ABiogás (Associação Brasileira de Biogás e de Biometano), o potencial de crescimento desses combustíveis no mercado brasileiro é gigantesco. Segundo a entidade, o Brasil poderia produzir 52 bilhões de metros cúbicos de biogás a cada ano, volume suficiente para abastecer cerca de 25% da frota nacional de veículos - além de 12% de toda a demanda por energia elétrica no país.

"Chegamos ao ápice do sistema de combustíveis líquidos, especialmente diesel e gasolina. Vivemos em um mundo de recursos energéticos finitos, precisamos extrair petróleo e gás a quilômetros de profundidade no oceano, a um custo elevado. As novas saídas não terão um combustível quase hegemônico como hoje e, sim um conjunto de alternativas", avalia Cícero Bley Jr, presidente da associação.

Bley Jr espera que o RenovaBio, plano do Ministério de Minas e Energia para ampliar a participação de biocombustíveis na matriz energética do país até 2030, bem como atender as metas de emissões estabelecidas na COP21 (cúpula do clima de Paris), contemple também incentivos e uma política definida para o biogás. "Está mais que na hora de haver uma política de governo definida para o biogás e o biometano. O Brasil já dispõe de tecnologia para isso".

Consultado, o Ministério de Minas e Energia informou que entre os biocombustíveis que serão atendidos no programa, estão o etanol de segunda geração, o biodiesel de óleo vegetal hidrotratado, o bioquerosene, o diesel de cana, o biogás/biometano e o bioquerosene.

Agora é acompanhar a trama política e torcer para o biometano não fica só como peça de ficção científica, especialmente aqui no Brasil.

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