quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Ciência X Ficção: Hibernação do Tempo


Uma nova ciência surge como a solução para a imortalidade e um meio precário de viagem no tempo. Porém, o congelamento do corpo seria a garantia para a eterna juventude?

Você começa abrir os olhos lentamente. A cabeça está um pouco pesada, a garganta seca e o corpo rígido e gelado. Os olhos começam a enfocar o que está em sua volta, você vê um homem vestido com uma espécie de traje espacial que olha para você sorridente e diz: "Você conseguiu. Seja bem vindo ao século XXV".

Isto pode parecer uma história de ficção científica, contudo, muitas pessoas estão investindo tempo e dinheiro na ciência da hibernação na esperança de que um dia, décadas ou séculos depois de sua "morte", possam ser curadas e devolvidas à vida.

A teoria da hibernação é tão simples quanto fascinante: depois da morte de uma pessoa, seu corpo é congelado para ser, em um futuro de tecnologia avançada, devolvido à vida. Todos os seus problemas, inclusive o de possuir um corpo mortal estão solucionados. Em um futuro onde todas as doenças são curadas a pessoa poderia, de 200 a 300 anos depois de sua "morte", simplesmente levantar-se e sair para um passeio.

A Conservação

A criobiologia surgiu nos anos 50, quando começou-se a congelar esperma de touros para inseminação artificial. Em 1964, Robert Ettinger lançou a idéia da conservação da vida humana em seu livro A esperança da imortalidade, causando um grande impacto.

Três anos depois, o Dr. James Bedford, um americano de 74 anos, adepto da hibernação, foi o 1º homem que, depois de falecer vítima de um câncer de pulmão, foi deixado em "suspensão" através do uso de baixas temperaturas. Desde então, as sociedades que se dedicam à hibernação possuem centenas de clientes, a maioria dos quais estão ainda vivos.

Seus clientes carregam um cartão que adverte: "Não submeter à autópsia ou embalsamar", e para que não haja perda de tempo, no cartão também está indicada a pessoa que deve ser contatada.

Congelar o corpo

O processo de congelamento é relativamente simples. Em 1º lugar, o sangue é extraído e sustituído por um líquido anticongelante. Em seguida, o corpo é rapidamente congelado na velocidade de vários graus por segundo, até alcançar a temperatura de -196°C. Uma velocidade menor no processo de congelamento, acabaria produzindo a formação de grandes cristais que danificariam as membranas celulares.

A temperatura de -196°C é crítica, isto significa que trata-se da temperatura de ebulição do nitrogênio líquido, a substância química utilizada para manter o corpo congelado. O nitrogênio líquido é utilizado porque impede a decomposição do corpo.

Uma vez congelado, o corpo é depositado em um tanque cilíndrico de aço, chamado dewar. Este tanque só poderá ser aberto- exceto para reabastecimento periodicamente de nitrogênio- no momento em que o corpo será reavivado, o que pode ocorrer depois de vários séculos.

Na aplicação desta prática existem fundamentalmente duas opções: o congelamento do corpo inteiro (o corpo é congelado de cabeça para baixo) e o congelamento apenas da cabeça e do cérebro. Os clientes mais prudentes escolhem a 1ª opção, porque se ocorrer uma elevação da temperatura, apenas os pés seriam afetados dando tempo para o problema ser solucionado. Em contrapartida, os clientes que aceitam a 2ª opção estão mais de acordo com a lógica da hibernação, pois acreditam que no futuro será possível clonar um novo corpo utilizando o DNA do cérebro, e portanto não há necessidade do antigo corpo. Além disso, apesar de todas as precauções, o corpo poderia sofrer danos por causa do congelamento: seus órgãos internos poderiam quebrar, abrir e desagregar-se. Finalmente, conservar apenas a cabeça é mais barato, e em casos de emergência, esta pode ser transportada com maior facilidade.

Esquema prático do Processo de Congelamento:
Durante um breve período, depois do falecimento, é preciso manter o fluxo de oxigênio para o cérebro para que uma parte deste sobreviva. Depois de concluída esta operação, o corpo pode ser submetido ao congelamento.
1) Através de um banho gelado e um alterador de calor, o corpo é refriado rapidamente até alcançar a temperatura de 0ºC. Uma máquina assegura a circulação sangüínea e fornece oxigênio ao paciente.
2) São injetados medicamentos que reduzem a atividade metabólica do corpo. O sangue é extraído e substtuído por um líquido artificial anti-congelante que evita a coagulação e previne o desenvolvimento de bactérias.
3) Finalmente, o corpo congelado a -196°C, é conservado de cabeça para baixo em um tanque contendo nitrogênio líquido.

Sem Desespero

Ser otimista é fundamental. De fato, as pessoas que pagaram para converterem-se em corpsicles (como são chamados os corpos congelados), devem acreditar que irão sobreviver tanto ao processo de congelamento como também ao processo de descongelamento. Além disso, devem acreditar que o mundo no qual voltarão a viver terá todos os meios necessários para desenvolver-lhes a vida.

Os defensores da hibernação citam como provas as experiências científicas que recuperaram alguns animais de um estado de morte, utilizando as mesmas criotécnicas de congelamento idealizadas para os humanos.


Em maio de 1992, por exemplo, em um babuíno anestesiado foi aplicado um líquido especial substituindo o seu sangue, em seguida seu corpo foi colocado no gelo e a temperatura foi sendo diminuída até que finalmente ficasse congelado. Uma hora depois o babuíno era reanimado com sucesso.

Em outra experiência, um cão da raça pastor alemão foi congelado por 4 horas. Também neste caso, seu sangue foi trocado por uma substância artificial. O coração do cão assim como sua ativiadde cerebral haviam parado. Os pesquisadores da Alcor, sociedade dedicada à hibernação, conseguiram recuperar o cão em perfeito estado de saúde.

Os opositores da prática da hibernação observam que uma coisa é um animal ser congelado durante algumas horas, e outra é congelar um ser humano durante décadas ou séculos. Além disso, os opositores ainda lembram que muitas experiências com animais não foram bem sucedidas. Os defensores da hibernação replicam dizendo que tais fracassos ocorreram em função da formação intracelular de cristais devido a um processo de congelamento muito lento, e afirmam que este problema tem solução.

Para apoiar suas próprias teorias, os pesquisadores acreditam na microtecnologia, a qual preconiza que robôs microscópicos poderão percorrer o corpo humano diagnosticando anormalidades e reparando células em tempo real. Segundo os mais otimistas, esta tecnologia poderá reviver a pessoa, que escolhe em que idade começará a viver. Parece que a idade preferida está em torno dos 25 anos.

Dinheiro Desperdiçado?

Os biólogos ingleses Peter e Jean Medawar são dois típicos representantes de um pequeno e coeso grupo de estudiosos que acreditam que a ciência nunca poderá encontrar um mecanismo para reanimar os corpos conservados durante tanto tempo. "Nós acreditamos que investir na tentativa de conservar a vida humana é desperdicio de dinheiro", declaram.

Alguns cientistas são menos diplomáticos. O criobiólogo Arthur Rowe é o responsável pela célebre declaração: "Pensar que depois da hibernação pode-se devolver a vida a alguém é o mesmo que acreditar que hambúrguer pode ser reconvertido em uma vaca".

Os homens da Alcor contra-atacam dizendo que "as técnicas de congelamento utilizadas basiam-se nas observações descritas em centenas de publicações científicas que demonstram que as células dos mamíferos, inclusive as cerebrais, podem resistir ao congelamento e ao subsequente descongelamento".

Aversão Moral

A hibernação tem levantado polêmicas desde o início. A igreja católica, por exemplo, considera moralmente inaceitáveis os princípios fundamentais desta ciência, sustentando que o homem não está destinado a alcançar a imortalidade neste mundo. Esta espécie de "ressurreição tecnológica" não tem nenhuma relação com a ressurreição de Cristo na Bíblia.

Crise de Identidade

Não existem provas de que um indivíduo descongelado possa recuperar sua própria individualidade psíquica. As atividades do cérebro, em especial as relativas à memória, são um dos maiores ENIGMAS da biologia.

Se a memória não passa de uma série de impusos elétricos, depois de transcorridos alguns séculos dentro de um dewar, estes impulsos terão cessado. Em outras palavras, a pessoa descongelada poderia despertar com um cérebro de recém-nascido ou com um corpo vivo e um cérebro neurologicamente morto.

Ainda assim, mesmo que os processos da memória fossem baseados em reações de natureza química, o resultado não seria melhor. De qualquer forma, se psiquimicamente não percebemos o regresso à vida, pode ser que acabe sendo o mesmo que estarmos mortos.

Supondo que tudo ocorra bem, segundo os planos estabelecidos e que se possa voltar à vida com o corpo e o cérebro em pleno funcinamento, temos que considerar outros fatores: Como se sobreviverá na "nova" vida? Não ocorrerão lembranças pertubadoras? Não poderiam ocorrer doenças físicas ou mentais? Qual seria a reação de uma civilização avançada? O hibernado poderia acabar se tornando uma atração de circo. As bactérias não representariam um perigo para nossos salvadores depois de superado o processo de hibernação?

Viajantes do Tempo

Se no século XXV desaparecer a maior parte das doenças que hoje nos afligem, é possível que um mundo já super povoado não esteja interessado nos "viajantes do tempo".

Contudo, as sociedades que dedicam-se à hibernação poderiam estar interessadas em reviver seus clientes e se puderem provar sua capacidade para devolver a vida, seriam reconhecidas como pioneiras da ciência.

Frases Imortais

"Não temos a certeza de que voltaremos a viver, porém morreremos sabendo que existe a possibilidade"
Maureen Michaels, cliente da hibernação

"É evidente que, pelo menos no momento, a hibernação é só uma forma mais extravagante e cara de enterrar cadáveres"
Morton Schatzman, psiquiatra

Fonte: Revista Fator X nº 7.

Postado por Anderson Drumond

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