sexta-feira, 2 de março de 2012

Ciência X Ficção: Déjà vu

Você já leu esse texto antes?

Falha na Matrix,  Viagem no Tempo ou Memória Afetada?

"Déjà vu" (pronuncia-se "Déjà vi", mas popularmente é falada e escrita como "dejavu"), é um termo da língua francesa, que significa “já visto” e normalmente é caracterizado como uma impressão de já ter visto ou experimentado algo exatamente igual antes, que aparentemente está a ser vivenciado pela primeira vez.

É como um viajante do tempo que vê o seu passado e sabe (ou sente) o que vai acontecer. Se assumimos que a experiência é na verdade uma recordação, então o Déjà vu ocorre provavelmente porque uma experiência original não foi completamente codificada. Nesse caso, parece provável que a situação presente dispare a recordação de um fragmento do passado, que se baseia numa experiência real mas de que temos apenas uma vaga lembrança. A experiência pode ser perturbadora, principalmente se a memória está tão fragmentada que não há conexões fortes entre esse fragmento e outras memórias ou nenhuma conexão consciente pode ser feita entre a situação atual e a memória implícita.

A sensação de já ter ido em algum lugar deve-se, muitas vezes, ao fato de realmente já ter conhecido aquele ambiente, somada ao esquecimento do ato original justamente por não prestar a devida atenção. A experiência de Déjà vu pode representar imagens ou relatos ocorridos num passado distante (décadas) ou, até mesmo, poucos minutos ou segundos atrás. Essas experiências podem ser parte de uma fraca recordação da infância, erroneamente associadas com vidas passadas, basicamente porque pressupõe-se que as mesmas não ocorreram nesta vida.

Finalmente, é possível que a sensação também seja disparada por ação neuroquímica no cérebro, que não está ligada a nenhuma experiência do passado. Sente-se estranho e se associa a sensação com "já experimentei isso antes", mesmo que a experiência seja completamente nova. Ou seja, Déjà vu pode não necessariamente envolver um falso reconhecimento de algo já vivenciado.

O termo foi aplicado pela primeira vez por Emile Boirac (1851-1917), um homem com forte interesse em fenômenos psíquicos. O termo de Boirac dirige a nossa atenção para o passado. Contudo, uma pequena reflexão revela que: o que é único no Déjà vu não é algo no passado, mas algo no presente, nomeadamente a estranha sensação que temos quando o experimentamos. Temos muitas vezes experiências que a novidade não é clara e nos levam a questões como:
  • "Já li este livro antes?";
  • "Isto é um episódio que já vi o mês passado?";
  • "Este lugar é-me familiar, será que já estive aqui?".
Todavia, perguntas como essas não costumam ser acompanhadas de sensações estranhas, apenas de confusão mental. Não há nada de absurdo não se lembrar de ter lido um livro antes, principalmente se você já tem mais de 40 anos e leu milhares de obras. Agora, quando associamos essas confusões ao fenômeno Déjà vu, nos sentimos estranhos com tal percepção e, assim, nos assustamos.

Portanto, é possível que a tentativa de explicar o Déjà vu em termos de memória perdida, inatenção, vidas passadas, clarividência, etc, possam estar completamente erradas. Devíamos falar da sensação de Déjà vu.

Pesquisas indicam que cerca de 2/3 das pessoas experimentam essa sensação pelo menos uma vez na vida, mas se sabe muito pouco sobre suas causas.  A sensação de que o paciente está revivendo experiências pode durar apenas alguns segundos ou, às vezes, alguns minutos ou até mais. Essa sensação pode ser causada por um estado do cérebro, por fatores neuroquímicos durante a percepção, sendo comum entre pacientes psiquiátricos. Também precede ataques de epilepsia do lóbulo temporal. Em 1955, quando Wilder Penfield fez a sua famosa experiência na qual estimulava eletricamente lóbulos temporais, encontrou um grande número de experiências de Déjà vu.

Contrariamente aos problemas de memória, o Déjà vu parece ter maior incidência entre pessoas jovens. De acordo com uma pesquisa coordenada por Alan Brown, da South Methodist University, em Dallas, as pessoas costumam experimentar a primeira sensação dedéjà vu aos 6 ou 7 anos. A frequência dessa sensação costuma ser mais alta entre os 15 e 25 anos - e diminui depois dessa idade.

O Curioso Caso do "Homem Déjà Vu"



Um britânico de 23 anos, há oito anos tem experimentado episódios de Déjà vu com grande frequência e tem intrigado médicos e cientistas. A suspeita de um grupo de pesquisadores do Reino Unido, França e Canadá é que o problema tenha sido desencadeado por um excesso de ansiedade.

O jovem britânico com déjà vu crônico chegou a ter de evitar assistir televisão, ouvir rádio ou ler jornais, porque ele sempre sentia que já tinha se deparado com aquelas histórias antes.

Segundo Chris Moulin, neuropsicólogo cognitivo da Universidade de Bourgogne que está envolvido no estudo do caso, o jovem tinha um histórico de depressão e ansiedade e uma vez usou a droga LSD na universidade, mas era completamente saudável.

"Ele ficou completamente traumatizado com essa sensação constante de que sua mente está brincando com ele. Certa vez ele foi cortar o cabelo e, quando entrou na barbearia, teve um Déjà vu. Em seguida, teve um Déjà vu do Déjà vu. E já não conseguia mais pensar em outra coisa."

O britânico diz ter a sensação de que vive preso em um túnel do tempo. E quanto mais angustiado fica, maior parece ser a frequência de suas crises.

Segundo os pesquisadores, nas tomografias e exames de seu cérebro, tudo sempre pareceu normal, sugerindo que a causa do Déjà vu constante provavelmente é mais psicológica que neurológica.

"Esse caso não é suficiente para provar que existe uma ligação entre ansiedade e a sensação de Déjà vu, mas ele indica que seria interessante estudar mais a fundo essa relação", diz Moulin.

Não se sabe quantas pessoas sofrem de Déjà vu crônico, mas Moulin diz já ter encontrado casos semelhantes ao do jovem britânico - inclusive alguns pacientes que insistiam que já o conheciam em função do problema.

Teorias mais Prováveis

Akira O'Connor, psicólogo da Universidade de St Andrews, por exemplo, acredita que, na maioria dos casos, a sensação está ligada a uma espécie de "falha de ignição" momentânea nos neurônios no cérebro, que criaria conexões falsas.

"O Déjà vu pode ser uma espécie de tique do cérebro. Da mesma forma que temos espasmos musculares ou contrações das pálpebras de vez em quando, pode ser que, às vezes, a parte do cérebro responsável pela memória e sensação de familiaridade tenha uma pequena convulsão", diz O'Connor.

Isso ajudaria a explicar por que o que Déjà vu é mais frequentemente entre pessoas que têm epilepsia ou algum tipo de demência.

Outra teoria, desenvolvida pela professora Anne Cleary, da Colorado State University, é que a sensação seria causada pela existência de algo genuinamente familiar no entorno de quem a experimenta - como o formato de uma estrutura ou a disposição dos móveis de uma sala. Para testar sua hipótese, Cleary desenvolveu um jogo de realidade virtual computadorizado chamado "Deja-ville", em que as pessoas navegam por cenários semelhantes.

A natureza fugaz e espontânea do Déjà vu faz com que seja muito difícil estudar o fenômeno em laboratório, segundo os pesquisadores. "Os métodos para se tentar induzir um Déjà vu ainda são bastante incipientes".

"Nós usamos a hipnose e testes que envolvem listas de palavras. Outro método é chamado de 'estimulação calórica'. Consiste em esguichar água morna nos ouvidos das pessoas." O´Connor explica que, inicialmente, esse método foi criado para o tratamento de outros problemas, como vertigem, mas os cientistas perceberam que um efeito colateral comum era justamente o Déjà vu. "Acredita-se que isso ocorra porque o canal do ouvido é próximo ao lobo temporal, que pode ser responsável por essa sensação", diz ele.

Para Christine Wells, da Sheffield Hallam University, é necessário estudar mais a fundo esse fenômeno, porém algumas pessoas dizem que isso não é assunto para a ciência.

"Já recebi cartas de pessoas que acham que o Déjà vu é algo espiritual e citam a Bíblia e o Alcorão", diz O'Connor. "Alguns acreditam que eu não deveria estudar isso. Dizem que 'explicar o arco-íris estraga a sua beleza'. Pessoalmente, sempre gostei de ter um Déjà vu - e tentar descobrir o que causa essa sensação apenas torna essa experiência mais bonita."

E você o que acha disso tudo? Já teve um Déjà vu? Comente aqui...

Para saber mais:
  • Alcock, James E. Science and Supernature: a Critical Appraisal of Parapsychology (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1990).
  • Alcock, James. "Déjà Vu", in The Encyclopedia of the Paranormal editada por Gordon Stein (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1996).
  • Reed, Graham. The Psychology of Anomalous Experience: A Cognitive Approach (Amherst, N.Y.: Prometheus, 1988).
  • Schacter, Daniel L. Searching for Memory - the brain, the mind, and the past (New York: Basic Books, 1996), pp. 172-173. [Nota: este excelente livro sobre memória não faz menção a déjà vu, talvez porque afinal déjà vu nada tem a ver com memória.]
  • http://www.bbc.com/

2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...